PF vai à terra yanomami para investigar denúncia de três mortes de indígenas por garimpeiros

Foto: Força Aérea

A PF (Polícia Federal) investiga a denúncia de que três indígenas yanomamis foram mortos por garimpeiros no território, em meio a um processo de asfixia do garimpo ilegal, com controle do tráfego aéreo pela FAB (Força Aérea Brasileira) e promessa de operações de retirada de invasores.
 

A denúncia foi feita por Júnior Yanomami, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) dos Yanomami e Ye’kuana. Ele está na terra indígena acompanhando as ações de emergência em saúde pública, declarada pelo governo Lula (PT) no último dia 20.
 

Segundo a denúncia da liderança yanomami, três jovens foram mortos na região de Homoxi e Parima.
 

“Com o fim de apurar denúncia que noticia morte de três indígenas yanomamis, a Polícia Federal já se encontra em diligências em locais relacionados aos fatos”, disse a PF em Roraima, em nota divulgada nesta segunda-feira (6). “Não há mais informações disponíveis.”
 

Dez policiais foram deslocados para a região de Homoxi, tomada por garimpeiros -eles tomaram a pista de pouso antes usadas por aeronaves da saúde indígena, passaram a impedir o acesso por ar das equipes médicas e tocaram fogo na unidade de saúde.
 

O objetivo dos policiais é conversar com os indígenas, descobrir o que ocorreu e, em caso de confirmação dos assassinatos, identificar os locais onde estão os corpos e recolhê-los, para perícia e destinação conforme a intenção de familiares.
 

Existe um temor, entre policiais federais, de intensificação dos conflitos entre garimpeiros e indígenas, diante da asfixia do garimpo.
 

Também existe temor de reações de garimpeiros em Boa Vista (RR), quando começar a avançar a retirada de invasores da terra indígena.
 

A PF em Roraima também prevê fazer diligências para investigar a denúncia feita por Júnior Yanomami de que adolescentes yanomamis foram estupradas por garimpeiros e ficaram grávidas.
 

O relato foi repassado em Boa Vista a uma equipe do MDH (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), que disse que vai fazer uma investigação prévia sobre o que foi repassado.
 

Segundo a denúncia, 30 adolescentes ficaram grávidas após estupro por garimpeiros.
 

Os procedimentos previstos pelo MDH são buscar detalhamento junto a aldeias e nas cidades e pedir investigação pela PF e pela Polícia Civil de Roraima. Entre os detalhes buscados estão a idade das supostas vítimas (para saber se houve estupro de vulnerável) e se houve, por exemplo, oferta de comida e objetos por parte dos supostos agressores.
 

Servidores da Funai também buscam informações sobre a denúncia feita.
 

O controle do espaço aéreo, a maior presença do Estado e a decisão anunciada -ainda que sem data- de retirada dos garimpeiros da terra yanomami levaram a uma mobilização de grupos de invasores do território, que passaram a fugir do lugar ou a tentar fugir de alguma forma.
 

Os garimpeiros passaram a enfrentar uma inflação nos preços dos voos clandestinos de helicóptero para deixar o território, cobrados pelos próprios garimpeiros detentores de aeronaves. Um único voo passou a custar R$ 15 mil por pessoa, conforme relatos de invasores levados em conta no monitoramento feito pela PF.
 

Parte dos garimpeiros tenta chegar à Venezuela, segundo integrantes da PF, e há movimentos de fuga voltados até mesmo para a Guiana, distante da terra indígena.
 

Parte do território está na fronteira com a Venezuela. Uma das regiões mais atingidas pela crise de saúde, com explosão de casos de malária e desnutrição grave, é Auaris, que fica próxima da fronteira. O garimpo ilegal de ouro avançou tanto, com a conivência e estímulo do governo Jair Bolsonaro (PL), que chegou até comunidades de Auaris.
 

Garimpeiros estão tentando deixar a terra indígena também em barcos. Outros dizem estar ilhados, sem condições de sair do território e com mantimentos se esgotando.
 

Passaram a ser mais frequentes caminhadas pela mata -chamadas de varadouros- até pistas clandestinas, na expectativa de voos que permitam a saída do lugar.

Por Vinicius Sassine | Folhapress