por Juliana Arreguy | Folhapress
EUA, França e Itália concentram metade dos casos de Covid do planetaFoto: Viktor Forgacs / Unsplash
Desde 3 de janeiro de 2022, o mundo tem registrado, por dia, mais de 2 milhões de casos de Covid-19. O índice é acompanhado por outro dado assustador: a marca de 2 milhões de diagnósticos diários foi ultrapassada apenas uma semana após o primeiro registro de 1 milhão de novos casos no planeta.
Dados mais recentes do Our World In Data, referentes à quinta-feira (6), indicam que houve 2,52 milhões de notificações no mundo. Três países, juntos, respondem por metade dos casos: Estados Unidos (786.824), França (262.787) e Itália (219.430).
As últimas semanas — especialmente a primeira de 2022 — foram de sucessivos recordes de casos, impulsionados pelo avanço da variante ômicron. Abaixo, alguns deles:
4/1/2022 – Mundo: 2,4 milhões de casos
4/1/2022 – EUA: 1 milhão de casos
4/1/2022 – Reino Unido: 221 mil casos
5/1/2022 – França: 332 mil casos
6/1/2022 – Itália: 219 mil casos
6/1/2022 – Argentina: 109 mil casos
Há também países que voltaram a registrar altos índices após meses de controle da pandemia, como o caso da Índia, que notificou na sexta (7) mais de 100 mil casos num único dia —algo que não ocorria no país há mais de sete meses.
“Assim como as variantes anteriores, a ômicron está hospitalizando e matando pessoas. Na verdade, o tsunami de casos é tão grande e rápido que está sobrecarregando os sistemas de saúde em todo o mundo”, declarou o diretor da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, em entrevista coletiva na quinta (6).
No Reino Unido, o Ministério da Defesa anunciou na sexta (7) que convocará militares para auxiliar os hospitais diante do aumento de novas internações, atendimentos em pronto-socorros e escassez de funcionários de saúde.
Para autoridades sanitárias dos EUA, a alta de novos casos ainda não atingiu o pico. “Ainda estamos vendo esses números crescendo”, disse Rochelle Walensky, diretora do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano), em entrevista à NBC.
BRASIL TEM APAGÃO
Em 6 de janeiro de 2021, exatamente um ano antes, o Brasil era o segundo país com mais registros diários de Covid-19: 62.507, segundo o Our World In Data. Os EUA lideravam a lista (256.866 casos), e na sequência vinham Reino Unido (62.352), Alemanha (26.663) e França (25.143).
Dos cinco países citados acima, o Brasil é o único que não permanece entre os que mais registram novos casos de coronavírus em 2022. No entanto, também é o único entre eles que enfrenta um apagão de dados mesmo em meio a hospitais cheios e procura por testes para detectar a doença.
Na última semana, a média diária de casos no Brasil foi de 23.338. Na sexta (7), segundo o consórcio de veículos de imprensa, foram 53 mil novos diagnósticos de Covid, quantidade alta se comparada aos números apresentados nos dias anteriores —na quarta (5), por exemplo, foram 27.578 casos.
Parte do aumento de notificações se deve a dados represados, que foram se acumulando ao longo do mês de dezembro por causa das dificuldades em acessar o sistema do Ministério da Saúde. A pasta sofreu um apagão no dia 10 de dezembro, há quase um mês, e desde então o sistema ainda não foi normalizado.
Diante deste cenário, o país desconhece a verdadeira situação da pandemia que enfrenta atualmente, sem saber o total de casos registrados diariamente e também a quantidade de pessoas hospitalizadas pela doença.
Segundo a Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), em dezembro de 2021 as unidades de saúde privadas de 10 estados e mais o Distrito Federal tiveram aumento de 655% nas internações por causa da Covid-19. Há filas em pronto-atendimentos e corrida por testes em laboratórios e farmácias, que diante da demanda têm lidado com atrasos nos resultados e até mesmo desabastecimentos.
Enquanto em outros países do mundo a população tem a possibilidade de adquirir autotestes em farmácias, no Brasil este tipo de testagem tem a comercialização proibida.
“O apagão de dados dificulta planejamento de saúde, da vacinação, enfim, dificulta tudo que é baseado na ciência”, disse o epidemiologista Pedro Hallal em entrevista ao UOL News da noite de sexta.