Marcos Pereira, do Republicanos, pode ser alternativa do governo Lula para a presidência da Câmara
O embarque ainda não oficializado do Republicanos no governo Lula com objetivo imediato de ampliar a base no Congresso é visto por lideranças partidárias e setores do Palácio do Planalto como o início de uma articulação alternativa ao candidato do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na sucessão em 2025 para o comando da Casa. O entendimento é de que a minirreforma ministerial teria como efeito a aproximação natural do governo com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), que já articula sua candidatura. As informações são do Valor Econômico.
Lira deve apoiar o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). Interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ouvidos pelo Valor avaliam que o caminho a ser percorrido é muito longo, mas indicam que é positivo construir o quanto antes a possibilidade de contraponto ao nome encampado por Lira.
Embora não esteja descartada a possibilidade de Lula apoiar Nascimento, na avaliação palaciana, Marcos Pereira é visto como um político “bem mais previsível”. “Ter a opção de mais de uma estrada para chegar ao destino é sempre muito bom”, disse sob reserva uma liderança do PT próxima a Lula.
Nos seis primeiros meses de governo, a relação entre Lira e o Planalto foi marcada por turbulências. Em vários momentos, o presidente da Câmara criticou a capacidade de articulação política do palácio.
O governo entende também que Marcos Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, pode ajudar a aproximar o presidente Lula do segmento evangélico, que tem maior identificação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O Planalto tem recebido periodicamente pesquisas sobre esta fatia específica do eleitorado e pretende iniciar ações para estreitar o diálogo com os religiosos.
Uma liderança do Republicanos apontou que existe disposição do presidente do partido para uma aproximação com Lula. “Evidente que existe uma ala radical na sigla que apoia Bolsonaro, mas Pereira é bem visto pelo governo por ser uma alternativa para a presidência da Câmara”, diz.
Em 2020, durante o governo Jair Bolsonaro, Marcos Pereira tentou se viabilizar como candidato do Planalto à presidência da Câmara na sucessão de Rodrigo Maia, à época no DEM. Não deu certo. Em 2022, o deputado apoiou a reeleição de Bolsonaro. Ele foi ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) durante a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Por outro lado, faltando pouco para ingressar no governo, integrantes do Republicanos relembram que, em 2019, Pereira posicionou-se de maneira enfática contra a tentativa de transferência de Lula da Superintendência da Polícia Federal no Paraná para a Penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo.
No início de abril, em entrevista ao Valor, Pereira classificou como “gelatinosa” a base de sustentação do governo e garantiu que seu partido não faria parte dela. Procurado, o deputado não quis comentar as negociações com o Planalto.
O deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), ligado ao senador Renan Calheiros, também pretende entrar na disputa pelo comando da Câmara. Ao Valor, disse que tratar do assunto agora é uma “antecipação especulatória”. Elmar Nascimento também preferiu não falar sobre o tema.
As costuras feitas até o momento apontam que o Republicanos e o PP vão ter postos de comando na Esplanada. Os deputados André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) devem ser efetivados como ministros. As posições que cada um deve ocupar, contudo, só serão definidas após reunião entre Lula e Lira.
Há divergências, no entanto, em relação ao comprometimento absoluto das siglas com o governo em votações no Congresso. “O governo sabe que não tem como ser base oficialmente, mas sabe que tem como a gente contribuir com a governabilidade”, aponta uma liderança do Republicanos.
Ciente das movimentações do núcleo próximo de Pereira para emplacá-lo como candidato ao comando da Câmara com apoio do Planalto, o PSD, que hoje tem a principal cadeira da Mesa Diretora do Senado com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já iniciou suas articulações para garantir espaços de protagonismo nos dois últimos anos da atual legislatura.
Com bancadas significativas nas duas Casas, o partido de Gilberto Kassab já sinalizou a legendas aliadas que não aceitará ficar escanteado nas negociações pela sucessão de Lira. O nome do líder do PSD, Antonio Brito (BA), é apontado como potencial postulante à presidência da Casa em 2025.
Fontes da sigla demonstram disposição em apoiar o retorno de Davi Alcolumbre (União-AP) ao comando do Senado. Nesse cenário, desconsideram a possibilidade de abraçarem uma eventual candidatura de Elmar Nascimento à presidência da Câmara. Para eles, “não há nada que justifique deixar o União à frente das duas Casas”.
Em relação a uma eventual postulação de Pereira, os correligionários de Brito argumentam que o PSD está embarcado na ideia de apoiar a reeleição de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no governo de São Paulo.
Também descartam endossar uma possível iniciativa de Isnaldo Bulhões (MDB-AL) de concorrer ao principal posto da Mesa Diretora da Câmara, já que as conversas para apoiar a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), estão bem encaminhadas.
Nesse contexto, Davi Alcolumbre deve ter um papel central na sucessão nas duas Casas do Poder Legislativo. Aliado de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e favorito para voltar à presidência do Senado, viu seu partido perder três quadros no Senado do ano passado para cá. As baixas no União Brasil levaram o MDB a iniciar um movimento para retomar o controle da onde foi hegemônico por décadas.
Uma das movimentações emedebistas envolve o próprio Alcolumbre. A sigla tenta seduzir o senador do Amapá para uma mudança para o MDB pensando na sucessão de Pacheco. Outro partido que tenta atrair Alcolumbre é o próprio PSD.
Interlocutores de Alcolumbre afirmaram que o “namoro” com os partidos não é novo, mas que o senador nunca demonstrou interesse em deixar o União Brasil. Mesmo perdendo quadros no Senado, a avaliação é de que Alcolumbre conta com fiéis aliados em diversas siglas, tem boa interlocução com o Palácio do Planalto e influência na Esplanada dos Ministérios.
Procurado, Arthur Lira não comentou o assunto