Foto: André Carvalho/ Ag. Haack/ Bahia Notícias
Nem PT, que ficou em primeiro com Jerônimo Rodrigues pelo governo da Bahia, nem União Brasil, com o fundão eleitoral e a campanha de ACM Neto (União), podem ser considerados vitoriosos na corrida pelas vagas proporcionais baianas. O título cabe ao PSD e ao poderio de Otto Alencar, senador reeleito e que não teve a supremacia ameaçada em momento algum da campanha. Os socialdemocratas garantiram seis cadeiras na Câmara dos Deputados e nove na Assembleia Legislativa da Bahia – não são as maiores bancadas, mas foram os candidatos com votação mais expressiva nominalmente.
O “coronel” Otto sempre foi um fator importante na disputa eleitoral baiana. Tanto que, ainda que o governador Rui Costa (PT) tenha tentado articular uma candidatura ao Senado, a prevalência da reeleição do presidente do PSD nunca foi colocada em dúvida. Era Otto a escolher se seria ou não candidato ao governo, e o resultado da novela foi a escolha do desconhecido Jerônimo para o Palácio de Ondina. Ex-governador, ele estava na aposentadoria política no Tribunal de Contas dos Municípios quando foi instado a ser vice de Jaques Wagner em 2010. Desde então, sempre foi fiel ao grupo e decisivo como ficou evidente nas urnas.
No passado recente da Bahia, o governador puxava votos para senador. Em 2022, o cenário que se viu foi diferente. Descolado de Jerônimo, Otto mais transferiu votos ao candidato ao governo do que o sentido contrário. Por mais que a lealdade nunca tenha sido posta a prova, o senador preferiu não depender exclusivamente do esforço do petismo e se manteve equidistante de ataques ao adversário, enquanto capitaneava votos para si e para o aliado. Agora colhe os louros dessa estratégia, que se mostrou acertada.
O PSD teve quatro dos cinco deputados mais bem votados pela Bahia para a Câmara. No caso da Assembleia, a hegemonia foi maior: os três melhores colocados são do partido. E com chapas proporcionais menores que a de adversários, ou seja, não precisou construir tantas candidaturas escada para lograr êxito nas urnas. É uma estratégia autocentrada, mas que conseguiu garantir as cadeiras desejadas – os únicos que talvez tenham ficado frustrados foram Charles Fernandes e Jusmari Oliveira, que não conseguiram reeleição.
Agora, no segundo turno, caso a “tropa” do PSD se mantenha no campo, Jerônimo vai permanecer em débito com o partido, que já ensaia cobrar espaços. A sinalização de que quer continuar com a presidência da Assembleia é apenas a ponta visível desse iceberg. A fatura não é barata, mas vale a pena ser paga. E olha que sequer entramos no mérito do peso de Otto ter anunciado que uma ala do PSD vai apoiar Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições.
por Fernando Duarte